
Como acordar sem sofrimento?
Recomeçar sem horror?
O sono transportou-me
àquele reino onde não existe vida
e eu quedo inerte sem paixão.
Como repetir, dia seguinte após dia seguinte,
a fábula inconclusa,
suportar a semelhança das coisas ásperas
de amanhã com as coisas ásperas de hoje?
Como proteger-me das feridas
que rasga em mim o acontecimento,
qualquer acontecimento
que lembra a Terra e sua púrpura
demente?
E mais aquela ferida que me inflijo
a cada hora, algoz
do inocente que não sou?
Ninguém responde, a vida é pétrea.
Carlos Drummond de Andrade
3 comentários:
Oi Elaine, há tempos não leio Drummond, e tenho que concordar... a vida é pétrea. Beijinhos, bom fim de semana
Suas postagens estão muito melancolicas, a vida não é pétria, depende de nós o poder de muda-las....
Bjss
É um dos poemas de Drummond onde ele apresenta a sua fase melancólica, desiludido do mundo. Mas a escolha que fez em publicar, é ótima.
Beijo e lindo final de semana
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