Quem Eu Sou



Elaine Crespo

Quem eu sou. Talvez existam milhares de frases feitas que eu poderia usar, mas, acho que isso não seria o que alguém chamaria de 'se descrever'. Aliás, a partir do momento em que eu uso uma frase que alguém já escreveu, eu não falo de mim mesma, mas de outra pessoa. Eu também não gostaria de falar sobre o que eu sou, porque, aqui se vai um dos clichês que carrego em minha manga, como trunfos: eu iria me limitar, e com uma alma rebelde e selvagem por natureza, eu não respeito limites, pois minha alma não o faz. Eu não gostaria - nem poderia, devo acrescentar - de limitar as minhas qualidades e defeitos em uma pequena quantidade, já que não é necessário. Não me satisfaria dizer algumas coisas, como a minha espiritualidade ou alguns poucos vícios. Não me agradaria dizer apenas defeitos ou apenas qualidades. Não me importa agradar as pessoas, além de a mim mesma. Que me aceitem assim. Que o mundo faça o resto.
Após algum tempo, as pessoas aprendem que eu sou tão fácil de se ler e sentir como um livro aberto, mas, para que isso aconteça, é necessário algum tempo de estudo, de análise e atenção em excesso. Até porque o meu humor é instável em grande quantidade. Em certo segundo, estou feliz e tranquila, de bem com o mundo tal qual os desenhos animados, mas, no segundo seguinte, estou tão desanimada e me sentindo mal que em meu rosto há uma expressão como se o mundo tivesse acabado. Esse não é o meu ponto, afinal. O que eu sou, exatamente? Aliás, quem eu sou? Não sou religião, ou senso de humor, por mais negro que esse seja, meu temperamento não é nem um pouco negro. Eu gosto de rir. Eu gosto de sentir amor, de sentir que sou amada. Gosto de ficar em casa, embaixo de cobertas, tanto quanto gosto de estar em festas, na companhia de meus amigos. Sem dúvidas eu poderia seguir com diversas comparações de coisas opostas que me atraem, - afinal, naturalmente o meu íntimo discorda e apenas concordam em descorcordar - mas, se eu o fizesse, não seria eu quem estaria descrevendo. Seria uma pessoa diferentemente igual a mim. Diferentes iguais. Acho que achei algo mais próximo a me descrever do que um punhado de adjetivos. Eu sou diferente a todos ao meu redor, assim como igual, tendo sempre diversas semelhanças com qualquer um, em qualquer tópico. Deve ser esse um dos motivos que consigo me enquadrar em qualquer grupo que eu deseje, mas, o que eu participo só existe eu e eu mesma. Não que me importe apenas comigo, pois não sou egoísta, mas, eu sou do tipo que participa de todos chamados 'grupos', e, ao mesmo tempo, de nenhum, pois a facilidade de me encaixar é tanta, que eu me afeiçoo rapidamente, e esse é um dos meus piores defeitos. Eu me apego fácil a todos, e todos são meus amigos, se bem que eu poderia contar nos dedos de uma mão o que realmente descrevem essa palavra com perfeição. Pessoas que me importam poderia facilmente dizer quem eu sou, pois o sentimento é recíproco. Sempre. "Eu não pedi pra nascer, eu não nasci pra perder",como diz Lulu Santos. E isso fala bastante também. Eu literalmente não nasci pra perder, ou pra sobrar de vítima das circunstâncias. Eu gostaria de me descrever melhor, e dizer melhor sobre quem eu sou, mas é difícil fazê-lo, pois as paredes do meu eu interior são como um labirinto em uma mudança constante, se a função é esta. Falar sobre mim é tão difícil quanto... Quanto descrever aquele primeiro amor intenso do primário, em que encostar as mãos era uma grande declaração.


Elaine Crespo