Fardos





O fato (ou fardo) é que somos seres de linguagem, mas completamente ilegíveis.
Fico aqui pensando: será que se eu colocar índia na vitrola dá muito na vista? Aí eu lembro que não tenho vitrola.
Eu te amo. Essa frase que não vou dizer, não vou escrever, não vou sentir. Quando eu acho que, quando quase, eu faço o exercício da solidão. Como fazem nessas dietas malucas modernas, um dia de desintoxicação. Um dia em que todas as vezes que quero muito, leio um livro que amo, vejo uma partida de futebol, falo com um amigo, tiro um cochilo, tomo um banho, abro uma cerveja, acendo o forno. No fim de tudo, encaro sem piscar meu vazio. Ele me olha de volta, talvez com alguma piedade e me deixa vislumbrar o futuro de desabitados corredores no peito.
Por enquanto não há dor, saudade, medo, insegurança, incerteza que sejam minhas mesmo. Tem aquele eco pro sentir alheio. Meu peito, desfiladeiro.
E fica cada vez mais difícil ir embora. Mas, também, fica cada vez menor a vontade de voltar só pra não ter que ir embora de novo. 
Uma coisa que aprendi nesses anos de riso, digo, de risco, opa, de vida, é que o sofrimento passa. Um dia se respira sem que pareça que uma faca nos atravessa o peito. A dor cessa. Às vezes tenho vontade de começar a sofrer logo pra logo acabar de doer. 

Por Luciana Nepomuceno

Fontes:

1 comentários:

Rô... disse...

oi Elaine,

muito boas suas escolhas,
saudades de estar por aqui....

beijinhos