Refúgio de Amantes



Rosas é o rubor que guardámos da ceia dos corpos. Da casa que habitámos ficou o cheiro acre e humidoso, próprio dos locais entregues aos seres rastejantes da criação. Ficou o eco dos murmúrios, ficou ressoando o timbre da tua voz, conforme ressoa ainda no meu peito e, amor, ficaram os gestos suspensos para sempre... Rosas é tudo que cresce nos meus dedos, e espinhos as palavras que cravo no silÊncio. Agora revisito este refúgio e sento-me no teu olhar. Vives aqui na voz da vento, vives no musgo reluzente, pairas no voo do milhafre, no sopro das árvores no pinhal. E os meus membros acolhem a novidade correndo descalça para ti neste orvalho da memória... E rosas é tudo que ficou do nosso tempo. Breve, ríspido e insolente, Chronos abateu-se sobre este lugar. Decrépito, sem alma, só os meus olhos lhe emprestam beleza. O que ficou de nós foi esta aspereza, esta ruína de incertezas, esta saudade imensa das manhãs em que era o sol a despertar-nos, nós no limbo do desejo, nós no tálamo de umas núpcias que ainda hoje perduram e no entanto não foram celebradas. Vives dentro dos meus olhos e eu nos teus. Pode este velho refúgio de amantes desabar, poderá definhar assombrado ou transformar-se em casebre de malteses que nada nos desalojará de nós mesmos, deste refúgio sem tempo abrigado de todos os ventos. Aqui, amor, só nós e a tempestade que vier... E mansamente no choro da chuva nos faremos seda e os nosso corpos voltarão a percorrer a alameda das rosas do primeiro beijo.

Por:LibeLua

Fontes:
www.oblogdalibelua.blogs.sapo.pt
www.photobucket.com

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