O prazer nascendo dói tanto
no peito que se prefere sentir
a habituada dor ao insólito prazer.
A alegria verdadeira não tem explicação possível,
não tem a possibilidade de ser
compreendida - e se parece com
o início de uma perdição irrecuperável.
Esse fundir-se total é insuportavelmente
bom - como se a morte fosse o nosso
bem maior e final, só que não é a morte,
é a vida incomensurável que chega a se
parecer com a grandeza da morte.
Deve-se deixar inundar pela alegria
aos poucos - pois é a vida nascendo.
E quem não tiver força,
que antes cubra cada nervo
com uma película protetora,
com uma película de morte para
poder tolerar a vida.
Essa película pode consistir em
qualquer ato formal protetor,
em qualquer silêncio ou em várias
palavras sem sentido.
Pois o prazer não é de se brincar com ele.
Ele é nós.
Clarice Lispector,
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