Eu não escrevo mais!



Faz tempo que eu não escrevo mais. Quando me perguntam "por quê?" eu digo que é falta de tempo, silêncio ou inspiração. Mas na verdade não, só estou criando desculpas para não escrever, estou criando desculpas para não me ler nessas linhas mal contadas, estou com medo de me ver e não me reconhecer. Eu não escrevo mais. Eu temo em não achar as palavras certas. Então me enrosco, e compreendo todas as fragilidades dos seres humanos sobre se expressar e traduzir os engasgos. Perdeu, fugiu, foi pra alguma rua desconhecida como essas muitas em que tenho andado ultimamente, se perdeu naquela curva que sopra sobre os ombros e me leva pra longe. Eu não escrevo, não faço contas de matemática, não faço apostas, nem ao menos rabiscos. Dos meus desenhos sobraram só riscos, e eu perdi o risco por medo de errar. Eu não escrevo mais, perdi a força, amigos, o riso, as coisas. Também não corro mais, perdi meu joelho, meu elo, e até meu jeito. Não escrevo mais sobre meus sentimentos confusos, não lhe conto mais meus medos, não me importo em chorar para a câmera, não ligo de fotografarem meu drama se colocarem uma legenda suave, transformando aquele momento em poesia. E não foi bonito, não é bonito. Aquela música alta, as pessoas desviando seus corpos do meu braço fino e arrepiado, uma dor de cabeça velha voltando e me avisando que é hora para todos os remédios, mas não há remédio que cure. Se alguém perguntar por que foi que eu chorei, ninguém se importará em dizer, o silêncio me define cautelosamente em todos os segundos. Tem uma parte faltando, que não está aqui, não está lá. E eu já nem sei onde procurar.
Então penso em sair por aí andando sem rumo numa noite qualquer, mais uma pose, parar em frente a um bar e observar os homens descontrolados com suas bebidas que passam a me vigiar com olhos e bocas vermelhas me oferecendo cigarros, bebidas, comidas de bar. Provavelmente eu inventaria uma crise alérgica e uma rinite cansada. Qualquer coisa pra mostrar que eu sou diferente. Qualquer coisa pra afastar as pessoas de mim. Qualquer coisa pra fugir pra um outro lugar, outra pose, mais um flash. Só não sei mais de quem estou fugindo, se das pessoas ou de mim. Coloco fogos em todas as minhas vontades de mudar de bairro, de cidade, de clima e de estranhos. Aceito a palavra problema colada em meu nome, aceito o olhar de um bêbado para as roupas que visto, aceito alguns minutos de covardia para não sair distribuindo meu horror pelo mundo. Ser a medrosa de poses iguais querendo entender o porquê dessas fugas. Tentando copiar o final do filme onde a moça pede ajuda em uma mesa de bar e acaba encontrando um filosofo que entende da vida e de feridas internas, de dores expostas, de todo esse vocabulário escolhido em minha defesa. Quem sabe ele possa me explicar alguma coisa, ou pelo menos que alguém cantasse 'que também é uma gota d'água, um grão de areia', e que também tem medo ver o próprio rosto depois que o flash disparou. Tolices. Ninguém sabe sobre o antes de todos aqueles olhos vermelhos me pedindo uma explicação. Ninguém sabe porque eu não escrevo mais, só solto alguns mundos, e ecos mudos.

Desconheço o autor.

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