Toma-me.

 Desenho de Viviane Couto


Toma-me.
A tua boca de linho sobre a minha boca Austera.
Toma-me AGORA, ANTES
Antes que a carnadura se desfaça em sangue, antes
Da morte, amor, da minha morte, toma-me

Crava a tua mão, respira meu sopro, deglute
Em cadência minha escura agonia.
Tempo do corpo este tempo. Da fome
Do de dentro. Corpo se conhecendo, lento,
Um sol de diamante alimentando o ventre,
O leite da tua carne, a minha
Fugidia.
E sobre nós este tempo futuro urdindo
Urdindo a grande teia. Sobre nós a vida
A vida se derramando. Cíclica. Escorrendo.
Te descobres vivo sob um jogo novo.

Te ordenas. E eu delinqüescida: amor, amor,
Antes do muro, antes da terra, devo
Devo gritar a minha palavra, uma encantada
Ilharga
Na cálida textura de um rochedo. Devo gritar
Digo para mim mesma. Mas ao teu lado me estendo
Imensa

De púrpura. De prata. De delicadeza.


Hilda Hilst

Fontes:
http://devaneiosaovento.blogspot.com/poema
http://litura-terra.blogspot.com/imagem

2 comentários:

Nanda disse...

Lindíssimo post... adoro Hilda Hilst, sempre rascante igual ao vinho mais seco!!
E que desenho maravilhoso, de um filme igualmente belo: Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças.
Bjs!

Penélope disse...

Esta Hilda é demais.
Obrigada pelo seu carinho, sempre.
Hoje passeei pelos outros espaços seus e sai sem fôlego.
Nossa!!! Lindo demais
Abraços