Canteiro Florido


Manhãs perversas estas que já nascem
de dedo em riste. Manhãs ridentes,
mascaradas do cinzento azul celeste.
Nas manhãs somos mulheres. Despertamos
sonhadoras, arrebatadas, cegas, prostradas
ou agrestes. Cerzimos o nosso mundo com
um olhar, um gesto, uma ordem, um puril
desejo, um afago de mãe, um terno beijo.
Moldamos no silêncio o barro dos desejos
e criamos do nada o espelho dos sentires.
Dizem que a fragrância das mulheres é a
das rosas, perfume sublime o seu sorriso,
indiscritível a essência que se solta do seu
olhar moldado algures na forja do Paraíso.
Mas apenas as estrelas são lágrimas de lua
no universo azul celeste dos seus dias. E a
poesia a salva que colhe e decanta o sorriso
único dessas flores da terra, tão serenas
quanto ímpias, tão ébrias, quanto ternas.
Para ti vão os meus versos, pura forma de
admiração pelo teu suave rosto, tua escrita,
teus desejos, tua fome de algo mais no livro
escrito dos dias, tua coragem, teu medo, tua
força quebradiça, tuas palavras sem perfidia
ou sombra de malícia. Que o tempo nos devolva
teu pulso, tuas letras, tua luz, tua presença
junto de nós como um canteiro florido. Então
seremos de novo mulheres, rompendo a
teimosia das manhãs, desenhando no céu um
Sol de esperança, um raio de carinho, uma onda
de mudança, o sorriso aberto de um menino.

Libelua

Fonte:www.oblogdalibelua.blogs.sapo.pt

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