SumiI-ê - 墨絵




" O Caminho Zen da Tinta Preta"


O Sumi-ê originou-se da tradicional pintura chinesa, que em certa época mudou seu sentido meramente decorativo para um caminho de busca espiritual e paz interior.

No início do século X o Japão começou um grande intercâmbio com a China, enviando estudantes para assimilarem o que de melhor a cultura chinesa possuía, destacando-se principalmente a caligrafia e a religião. Este intercâmbio continuou por mais alguns séculos, até que através de mudanças internas os japoneses adaptaram aquilo que tinham aprendido conforme suas necessidades. Uma herança deixada por este laço de amizade foi a semente daquilo que se transformaria no Zen-Budismo, que têm como data de nascimento o século XII.

Uma característica do Zen é a busca em entender as coisas deste mundo não através da aparência externa, mas sim procurando olhar seu interior e assim descobrir seu verdadeiro espírito. Os praticantes do Zen buscam através de exercícios de meditação ( Zazen ), uma libertação da mente presa nos fatos cotidianos do dia-a-dia para um estado de total desprendimento em que a única coisa que existe é o vazio.

Observando os tradicionais artistas que existiam na época, mestres Zen notaram que existia uma perfeita ligação entre a criação artística e o espírito do Zen. Através desta conclusão muitos monges começaram a praticar a pintura e outras artes tradicionais, não como forma de expressão mas sim com o objetivo de treinamento espiritual. Também existiu a mesma análise, mas na visão dos grandes mestres artistas, eles notaram que ao praticarem o Zen, poderiam aprimorar seu espírito criativo chegando a criar belas obras somente através da sua intuição, deixando de lado a reflexão e o pensamento tradicional. Surge deste casamento as principais artes relacionadas ao Zen: Sumi-ê ( pintura ), Chadô ( cerimônia do chá ) e Ikebana ( arranjo floral ).

O Sumi-ê, conforme sua origem, possui como principal característica a rapidez em que é realizado, a inspiração artística é transmitida no prazo mais curto possível, onde não existe tempo para reflexão ou pensamento daquilo que está sendo realizado, o artista deve seguir sua inspiração espontânea. Não existe a possibilidade de nenhuma correção ou repetição, um traço deve ser encarado como único, se existir algum erro ele está "morto " e portando toda obra perdida. Esse foi o espírito que levou muitos Samurais a praticarem o Zen e o Sumi-ê, um golpe de espada deve ser realizado espontaneamente sem chance para correções ou reflexões, caso contrário já se estaria morto devido a velocidade que ocorriam os confrontos.

No Sumi-ê, utiliza-se uma tinta feita de fuligem e cola ( Sumi ) e pincéis de pêlo de ovelha ou texugo de maneira a reter muito líquido, mas é o papel, na maior parte das vezes fino e absorvente, que dá a principal característica deste tipo de pintura. A razão de se escolher um material tão frágil para transmitir a inspiração artística, é que ela deve vir à tona no prazo mais curto possível, se o pincel se retardar muito sobre o papel este é transposto. A cor branca que fica de fundo no papel ( cor original ) é relacionada ao Universo, não se vê um fundo definido e assim a característica relacionada ao vazio é preservada.

A filosofia da pintura Sumi-ê é passar para o papel o espírito de um objeto, não existindo pretensão para criar uma obra realista. Cada pincelada deve estar cheia de energia ( Ki - energia vital que existe em todas as coisas ), cada traço têm que mostrar sua vitalidade e vida. Um ponto não representa uma águia ou um traço o Monte Fuji. O ponto é um pássaro e o traço é a montanha. O artista Sumi-ê, assim como um mestre da confecção da espada samurai, coloca seu espírito na obra e com isso cria vida através de sua expressão artística.

Shin'ichi Hisamatsu, filósofo e profundo conhecedor da arte Zen ressalta sete particularidades que devem existir em uma obra Zen, são elas: assimetria ( fukinsei ), singeleza ( kanso ), naturalidade ( shizen ), profundidade ( yugen ), desapego ( datsuzoku ), quietude e serenidade interior ( seijaku ). Portanto não são todas as obras que podem ser classificadas como Zen-Budistas.

Os principais temas relacionados ao Sumi-ê são: bambus, ameixeras, orquídeas, flores, pássaros e paisagens, não esquecendo aqueles ligados à temas religiosos como pinturas de patriarcas ou parábolas.

Existe uma tendência atual de colocar cores em algumas partes da pintura, principalmente onde a cor é uma forma de demonstração do espírito do objeto, este fato ocorre em muitos temas como por exemplo nas pétalas de flores.

Hoje no Japão, muitos executivos e pessoas de altos cargos praticam o Sumi-ê, não somente como forma de relaxamento ou busca de paz interior, mas também como forma de melhorarem a eficiência nos negócios, principalmente no que diz respeito à tomada de decisões rápidas.

Para se pintar Sumi-ê, o praticante têm que conhecer perfeitamente o objeto que vai pintar, para que não exista reflexão ou dúvida durante o processo criativo deve ocorrer uma observação quase que constante das coisas à volta, assim sua prática também traz uma consciência maior sobre a vida, pois com ela começa-se a existir uma maior sensibilidade das coisas e pessoas que nos cercam.

Fonte:/www.japao-online.com

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