“Tenho câncer de mama e tenho medo de morrer” Por Viviane Lima



Elaine Crespo, 55 anos, a perda do pai e de uma tia. A luta de sua sua mãe contra o câncer, a descoberta de sua própria doença, um câncer de mama. Nem mesmo o medo da morte e da doença que devastou sua família conseguiram lhe roubar a vontade de viver.

Foi em 1987 que Elaine sofreu o primeiro impacto da doença, quando sua mãe foi diagnosticada com câncer de mama. Aracy Ferreira Crespo foi levada a fazer mastectomia, retirada da glândula mamária, e seu seio foi reconstituído por um dos melhores especialistas de Recife, cidade natal. Convivendo com a doença de forma mais direta, cada ano para Elaine parecia uma vitória e mais um passo para a cura, mas a pergunta que sempre se fazia: “Cura será que existe?” Passou então a chamar de sobrevida. Teve ainda mais convicção de sua opinião quando treze anos após o câncer da mama esquerda, sua mãe teve outro na mama direita, dois tumores, pequenos e pouco agressivos, desta vez não foi necessário fazer mastectomia, nem quimioterapia, mas fez radioterapia por prevenção.


 "O fantasma da morte fica junto de mim, e é como se eu sentisse ele respirando no meu pescoço e dizendo que não vai me deixar em paz"


Quando tudo parecia ter voltado ao normal, eis outra surpresa. Sua tia, irmã de sua mãe morre de câncer de mama em estado avançado, por medo e preconceito de encarar a doença. Apesar da luta de Dona Aracy, hoje ela está com setenta e sete anos e não apresentou mais sinais do câncer e mesmo curada, faz exames anuais de prevenção.
Após a morte da tia e terminado o tratamento da mãe no ano de 2001, José Ferraz crespo – pai de Elaine -, é diagnosticado com um Linfoma Não-Hodgkin (as células linfáticas começam a se modificar, multiplicando-se sem controle e formando tumores. O linfoma de células T é o tipo menos comum) e com um difícil diagnóstico. Seis meses de quimioterapia, com o apoio constante da filha, José consegue que a doença seja controlada.

Cura?

Em novembro de 2004, Elaine faz como sempre durante os dezoito anos do descobrimento do câncer de sua mãe, prevenção semestralmente. Os exames incluíam mamografia digital e ultrassonografia, sempre fazendo questão de que até o mais simples dos exames fosse feito nas melhores clínicas e com profissionais que são referências nacionais e internacionais. Tudo parecia ir bem, os resultados eram sempre favoráveis. Podia respirar aliviada e despreocupada.

Menos de um ano após os exames preventivos, durante o banho, um nódulo aparece. Novamente voltou aos médicos e através de um ultrassom descobriu que o nódulo era sólido. Após fazer uma punção, o resultado mostrou que o nódulo era benigno.

Apesar da notícia, retirou o nódulo e os exames continuaram apontando benigno. Parecia não haver com o que se preocupar. Doença rara e um exame de imunoistoquímica em São Paulo para afastar duas patologias. Câncer nem pensar! Assim era informada. Até receber o resultado de um dos exame, uma surpresa: Carcinoma Metastático, um tipo raro, não agressivo e curável de câncer. Com crescimento rápido.

A família de Elaine Crespo tem uma grande história de superação. O avô morreu de câncer muito novo, sempre ouviu da mãe que ele era um guerreiro, mal pode conhecê-lo pois mesmo antes dela completar três anos ele se foi. A avó morreu quando a mãe de Elaine tinha apenas cinco anos. Alguns de seus primos nasceram e outros tornaram-se portadores de leucemia. O câncer sempre fez parte de sua vida, teve que aprender a lidar com ele, mesmo quando via o pai esmorecer, ainda lutando até o fim.

"Os médicos dizem que tive sorte e que a prevenção salvou minha vida. Não acredito que foi sorte e não acredito na medicina."

Quando o diagnóstico saiu, desesperou-se, quando a família recebeu a notícia, todos estavam acostumados e tinham em Dona Aracy um exemplo de superação. Somente Seu José desejou que fosse com ele, sem saber que o câncer dele havia voltado. Os filhos sabiam que tudo acabariam bem, foram orientados por um especialista da total chance de cura. Cura essa que Elaine não acreditava existir.

Fez mastectomia, retirada total da mama, onde retirou todo o câncer. Não foi preciso fazer quimioterapia ou radioterapia e mesmo com atenção total do marido, ainda não permite que vejam a mama reconstituída. Desde a retirada da mama, evita se olhar no espelho.

Ainda sente como se a cada dor ou sintoma o câncer tenha voltado, para desta vez levá-la. O medo da morte fez com que desenvolvesse síndrome do pânico, nunca buscou ajuda em grupos de apoio, nem em nenhuma religião. Procurou um psiquiatra que não conseguiu ajudá-la, mas ainda tem esperança de que talvez algum dia consiga tomar banho sem chorar.


 Postado por Viviane Limano Blog http://lagrimasnoceu.wordpress.com

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