Palco


Minha cabeça é uma peça de teatro. Há personagens, conflitos, algumas cenas marcantes... Às vezes me atrevo a dirigir e tomo controle da situação, escolho protagonizar minha própria história e vivo sem limites. Mas quando as atrizes se revoltam nos bastidores, retomam seus papéis. Deixam-me de lado, se expõem como bem desejam. Cheias de cenas vulgares, dramáticas, ridículas. São meninas cheias de vontades e nem consultam a dona da peça para saber se podem realizar suas teimosias.

Eu confesso: perco o controle, perco a vontade de controlar. Aceito o dia-a-dia e a rotina. Aceito ser movida pela minha mente que já não se conforma mais com as matinês. Todos os dias, todas as horas. Lembro e esqueço que devo ser solta para me impor. Cansei de só ocupar espaço sem existir. Tento me fazer acreditar que meu natural agrada mais do que as personagens, mas na prática a história é outra. Ao invés de surpreender a plateia à cada novo espetáculo, repito as falas decoradas sem improvisar nem uma vírgula. Ensaio sorrisos cheios de significado, mas acabo estática de novo.

Quem vai vencer? Quem é o vilão e quem é o mocinho dessa história? Quem vai se sobressair nessa luta por comando? Eu nunca acreditei em bem contra o mal. Ninguém é muito certo ou muito errado e a essa representação exacerbada chega a me revoltar. Eu não sei se eu devo ganhar essa batalha, não sei se tenho condições, se mereço assumir a direção. Talvez essas meninas medíocres aqui dentro sejam mais eu do que eu mesma. Dá pra entender onde eu quero chegar? Esse meu lado consciente, esse momento de sobriedade não é maioria em mim. Que poder tenho sobre os votos de uma população gigantesca de personalidades, todas unidas contra uma só - contra mim?

Meus segundos de lucidez estão chegando ao fim. A cortina se abre, as conversas e as luzes diminuem. Eu me rendo. Se tudo está errado, assim permanecerá. Se este script não me satisfaz, ninguém mais tem que saber. Mais um dia se passou sem que eu exigisse meus direitos. Habito, mas não comando. Sou inquilina de mim mesma e essa prisão é tudo.

Verônica H.

Fontes:
http://h-veronica.blogspot.com/Texto
www.meiapalavra.mtv.uol.com.br/Imagem

2 comentários:

Rô... disse...

oi Elaine,

lindo texto,
realmente é melhor sermos nós mesmos que personagens...

representar pode ser menos trabalhoso,mas com muito menos sabor...

um açucarado fim de semana
beijinhos

Penélope disse...

A VIDA é tão bela ARTE quanto qualquer peça pré estabelecida.
Que texto maravilhoso e que bem feita analogia.
Bravo!
Abraços, amiga