A Um Ausente


Tenho razão de sentir saudade,
tenho razão de te acusar.
Houve um pacto implícito que rompeste
e sem te despedires foste embora.
Detonaste o pacto.
Detonaste a vida geral, a comum aquiescência
de viver e explorar os rumos de obscuridade
sem prazo sem consulta sem provocação
até o limite das folhas caídas na hora de cair.

Antecipaste a hora.
Teu ponteiro enlouqueceu, enlouquecendo nossas horas.
Que poderias ter feito de mais grave
do que o ato sem continuação, o ato em si,
o ato que não ousamos nem sabemos ousar
porque depois dele não há nada?

Tenho razão para sentir saudade de ti,
de nossa convivência em falas camaradas,
simples apertar de mãos, nem isso, voz
modulando sílabas conhecidas e banais
que eram sempre certeza e segurança.

Sim, tenho saudades.
Sim, acuso-te porque fizeste
o não previsto nas leis da amizade e da natureza
nem nos deixaste sequer o direito de indagar
porque o fizeste, porque te foste

Carlos Drummond de Andrade

Fontes:
http://pensador.uol.com.br/poema
http//lh4.googleusercontent.com/imagem

2 comentários:

Lulú disse...

Olá Elaine.
Sei um pouquinho como se sente, pois já tirei tres nódolos nas mamas. Até sair o resultado da biópsia, ficamos com os nervos a flor da pele, mas graças a Deus os meus foram benígnos.
Se você já está curada, não pense nunca mais que a doença vai voltar. Tenha fé em Deus e viva feliz.
E o poema é muito bonito.
Beijo
Maria Luiza (Lulú)

Boca da Noite disse...

Desde ontem minha querida estou me sentindo bem devido ter me conectado a alguém bacana depois de muito tempo sem se conectar a ninguém... E desde a manhã de hoje navego por sites, blog's, O seu por exemplo que têm tantas estórias, poemas e escritas feita de alma e amor. Obrigado por ter feito esse espaço iluminado. Oro por você. Que Deus te preencha de paz.