Canção


Pus o meu sonho num navio
e o navio em cima do mar;
- depois, abri o mar com as mãos,
para o meu sonho naufragar


Minhas mãos ainda estão molhadas
do azul das ondas entreabertas,
e a cor que escorre de meus dedos
colore as areias desertas.


O vento vem vindo de longe,
a noite se curva de frio;
debaixo da água vai morrendo
meu sonho, dentro de um navio...


Chorarei quanto for preciso,
para fazer com que o mar cresça,
e o meu navio chegue ao fundo
e o meu sonho desapareça.


Depois, tudo estará perfeito;
praia lisa, águas ordenadas,
meus olhos secos como pedras
e as minhas duas mãos quebradas.

Cecília Meireles

2 comentários:

Passei e deixo... com um beijo...


MAR



Saio de casa, tentando levar-te…
A ti sentimento, a ti loucura…
E lá longe, olhando o mar…
Mar infinito, penso e vejo…
A loucura de te querer.
E não te poder querer…

E lentamente…
Ponho-te na minha mão aberta
Sopro-te e mando-te embora…
E deito-te ao mar...
Mar que é louco, e que é mau…
E te envolve nas ondas revoltas…
E vou para casa sem pensar em nada…
Vou mais leve. Mas mais pesada…

E quando chego, de ombros caídos…
Olho ao meu redor, e encontro-te aqui…
Porque tu voltaste outra vez…
E nunca me deixarás libertar….



Lili Laranjo

Elcio disse...

Ah Cecília...foi a primeira poetiza q li, ainda no primário e nunca mais parei de ler...principalmente poesias Cecílianas.

É isso aí.
Bjs e ótimo fds.