maio 07, 2009

A Lucidez Perigosa


Estou sentindo uma clareza tão grande
que me anula como pessoa atual e comum:
é uma lucidez vazia, como explicar?
Assim como um cálculo matemático perfeito
do qual, no entanto, não se precise.

Estou por assim dizer
vendo claramente o vazio.
E nem entendo aquilo que entendo:
pois estou infinitamente maior que eu mesma,
e não me alcanço.

Além do que:
que faço dessa lucidez?
Sei também que esta minha lucidez
pode-se tornar o inferno humano
– já me aconteceu antes.

Pois sei que
– em termos de nossa diária
e permanente acomodação
resignada à irrealidade –
essa clareza de realidade
é um risco.

Apagai, pois, minha flama, Deus,
porque ela não me serve para viver os dias.
Ajudai-me a de novo consistir
dos modos possíveis.
Eu consisto,
eu consisto,
amém.

Clarice Lispector

2 comentários:

  1. elaine!

    comento neste porque adoro à clarice e nao gosto demasiado do paulo coelho

    eu estou a postar mais estes dias, mas eu deveria adicarme ao meu doutoramento e deixar de postar

    beijos

    ResponderExcluir
  2. Oi, elaine! Adorei o blog e adoro Clarice!
    Um beijo!

    ResponderExcluir

Obrigada pela visita! Se gostou da postagem deixe um comentário que eu vou adorar!! Volte sempre!!!